Ambiente

Figueiras não resistem à erosão no Barro Duro

Fenômeno na orla do Balneário dos Prazeres tem causado a queda de diversas árvores. Cem delas, pelo menos, estão ameaçadas

Carlos Queiroz -

Dizem que o Barro Duro, Zona Leste de Pelotas, foi assim batizado devido à força do solo, rígido, capaz de dar estabilidade aos pés de quem se banha ali. A praia também é chamada Balneário dos Prazeres, mas nem tantos prazeres restaram - uma caminhada pelo local oferece cenário que mais lembra destruição: figueiras centenárias e seus extensos galhos caídos na areia.

A causa é um fenômeno natural. A erosão, amplificada pelo vento Nordeste, que empurra a água contra a orla, tem como consequência a degradação da mata nativa. A reportagem do Diário Popular assinalou pelo menos quatro figueiras no chão em poucos minutos de caminhada , no dia 13 deste mês. Outras dezenas teimam em resistir, agarradas ao pouco de vida que suas raízes ainda sugam. Mas para essas é questão de tempo. Basta um vento muito forte, uma enchente ou  mais alguns anos.

Marcelo Dutra da Silva, professor do Instituto de Oceanologia da Furg (Universidade Federal do Rio Grande), estima que são cerca de 500 figueiras no Barro Duro - pelo menos 100 delas ameaçadas pela erosão. “Daqui a duas décadas é provável que restem pouquíssimas, caso nada seja feito. As que vemos em pé hoje estarão no chão”, projeta. Natureza contra natureza, aliado à degradação provocada pelo homem e à falta de projetos que contemplem a preservação da área, tem derrubado uma espécie que é, inclusive, preservada pela lei 9.519, de 1992, que instituiu o Código Florestal do Rio Grande do Sul. O artigo 33 estabelece que é proibido, em todo o Estado, o corte das espécies nativas de figueira do gênero ficus. A árvore é típica do clima tropical, originária do Oriente Médio. A ficus organensis é a mais comum no Balneário. Para chegar no tamanho em que se encontram hoje, foi preciso um crescimento que demorou entre 100 e 200 anos. 

A solução do município há alguns anos foi instalar paredões de pedra. A medida, paliativa,  não impediu que continuasse a derrubada das figueiras. “Colocaram várias pedras na tentativa de conter a água, sem ter a dimensão total de sua força. No momento não há esforço algum para conter a situação”, afirma o professor. Triste destino para uma região que não só possui beleza e história, mas também potencial turístico e econômico.

Quem passou o verão na praia há algumas décadas sente saudade do tempo em que a extensão de areia não se resumia a poucos metros. Marilandes Santos, costureira, é moradora do Barro Duro há mais de dez anos e observa o comportamento de toda uma fauna que vem perdendo o seu lugar. “Estamos sem praia. É uma pena. Isso aqui era uma maravilha, mas a água tem avançado cada vez mais”, garante. Paulo Carvalho, médico, estava no local dia 13 para andar de caiaque, rotina que tenta manter há dois anos. Olhando para o cenário, lastima: “Cada dia que passa se acentua mais. Dá pena de ver figueiras que, logo logo, vão cair”.

Estudos
Para Felipe Perez, da Secretaria de Qualidade Ambiental (SQA), “não é algo que se aperta um botão e já está solucionado”. Ele diz que a pasta tem concentrado técnicos na área, em conjunto com o Conselho Municipal de Proteção Ambiental (Compam), para a elaboração de um estudo que indique a forma adequada de conter a erosão a longo prazo. “Não podemos perder esse patrimônio”, admite, e espera já ter o parecer em mãos em três meses. Questionado se é possível fazer algo enquanto ainda ocupa a Secretaria, Perez é positivo: “Podemos fazer algo até 2020, com toda certeza. Já deveria ter sido feito antes”.

“Engordar” a praia
O processo de engordamento da praia é uma alternativa para a defesa da costa. Se dá através da construção de “espigões” - extensas colunas de pedra aplicadas lagoa adentro, que segurariam a força da água, contendo a erosão nas margens. Dutra se refere ao procedimento como a melhor alternativa para solucionar o problema definitivamente. “É uma obra de engenharia que não deve ser feita de qualquer jeito. Precisa de um estudo e licença ambiental, além de muito preparo técnico. Deve ser pensada profundamente como uma via de recuperação de um local que está se degradando.” A praia de Copacabana, Rio de Janeiro, é um exemplo. No entanto, o custo é alto. Dutra reconhece que talvez o município e o governo estadual não consigam arcar financeiramente, mas garante: “Isso não significa que não pode ser feito. Se houvesse uma mobilização do Poder Público junto ao Ministério do Turismo, por exemplo, a obra poderia ser financiada por recursos federais”.

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